sábado, 31 de maio de 2008

Ternura


No Outono da vida, numa idade tão ternurenta, de alguém com tanto carinho para dar, tanto para ensinar, para partilhar...alguém que já deu tanto e que merece receber um carinho, um gesto, atenção, ouvir e ser ouvido...

São os velhinhos, amigos maduros, pessoas que, revendo o passado com gratidão
e abraçando o presente com serenidade
, nos podem ajudar a vislumbrar o futuro!

Porquê, tantas vezes, tanta solidão?! Tanto abandono?!


"Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado

Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava na solidão
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
Para dares lugar a outro no teu banco do jardim"
Velho, Mafalda Veiga

1 comentário:

RD disse...

A velhice é, sempre, o outono e o inverno da vida, mas pode ser vivida de uma forma bem diferente daquela que descreveste e que é, infelizmente, a realidade de muitas pessoas.

Discordo de quem diz que o mehor da vida é a juventude. Os seus privilégios são óbvios e inegáveis, mas isso não faz dessa etapa da vida a mais proveitosa! Mais difícil é encontrar as oportunidades e as coisas boas e bonitas que as outras idades nos oferecem e, contudo, mais recompensante também é essa busca. Quanto mais vivo e mais aprendo sobre a vida, mais creio nesse sentido inequívoco e extraordinário da tendência para o equilíbrio e está claro que essa harmonia inerente à existência não é coerente com uma filosofia de vida que defende que o mehor da vida está na juventude.

Desde sempre, os velhinhos foram tidos em grande conta nas sociedades de culturas muito diferentes, incluindo na nossa. Chamavam-lhes anciãos e sábios! Pois se os jovens tinham o ímpeto e a força, eles tinham a paciência e a sabedoria!

Os velhinhos solitários em bancos de jardim ou abandonados às portas de hospitais são invenções recentes da nossa sociedade ocidental! O nosso sistema de valores alterou-se a nossa forma de ver a vida também. Tornámo-nos demasiado egoístas para abrirmos mão de um pouco do nosso conforto para recebermos entre nós os nosso velhinhos, desvalorizámos e repudiámos tudo o que eles representam e têm de bom para nos oferecer, pintámos de negro o seu e o nosso futuro.

Mas nem tudo está perdido! Saber envelhecer sempre foi um desafio e hoje, é uma questão de sobrevivência.

A solidão não é um problema exclusivo da velhice. Aliás, muito pelo contrário, cada vez mais nos tornamos mais sós e isolados, em determinadas perspectivas. Não deixa de ser um paradoxo o facto de conseguirmos comunicar rápida e eficazmente com uma enorme quantidade de gente a uma enorme distância e, no entanto, sermos tão soliários em tantos momentos.

Pessoalmente, o que mais me assusta na velhice é o envelhecer do corpo ser mais rápido que o da mente. Mas seja como fôr, todos temos de morrer um dia, o que quer dizer que o outono, o inverno e o ocaso a todos nos chegará, de uma forma ou de outra. Portanto, cabe-nos fazer o melhor que pudermos para que chege da forma mais simpática possível - e eu só conheço uma: aconchegada pelo carinho daqueles que amamos.